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vozes de edu planchêz
LIVRO DE EDU PLANCHÊZ
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Devolvamos o rio
Devolvamos o rio.
Devolvamos tudo aquilo que lhe pertence.
O silêncio das manhãs entreabertas.
O sol atravessando o orvalho com
o formato de um ombro inteiro.
As bandeirolas de papel resplandecente.
Os barcos e seus porões de pequenas estátuas.
O gozo do redemoinho deslumbrado.
As árvores derramando flores
sobre as corredeiras.
O cântico dos pássaros que se banham nas margens
onde dormem os cavalos levemente embriagados.
Os segredos dos namorados
e a inocência dos corações emigrantes.
Devolvamos as pequenas ondas.
Os pequenos pescadores
com seus sonhos transparentes
e os peixes.
Devolvamos a morte estremecente
e além da morte
o cemitério viajante e afundado.
Devolvamos tudo, inclusive o leito experimentado
que acolhe a vastidão de nomes inteiros
e a vida com suas mamas profundamente desfiguradas.
Devolvamos o rio.
Celso de Alencar
Poemas Perversos
midi: Villa Lobos_Melodia Sentimental_Zizi Possi
formatação e arte final: Mary Castilho
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